Estrelas de São João
Lina, a menina desta história, não tem tempo para ir à escola, brincar ou fazer amigos. Desde quando ainda precisava subir num banquinho para lavar louça, mora na casa de uma senhora de voz ácida, que só sabe lhe dar ordens.
Infelizmente, esta não é uma história incomum. Tantas e tantas Linas ainda há mundo afora…
Linas que inventam e de um pano amarelo fazem um sol para o seu quartinho úmido. Que fingem, são fadas, e o cabo da vassoura é varinha de condão. Que viram princesas, sonham, sonham, enquanto realizam tarefas de adulto. Linas que se escondem para esconder o choro e a saudade. Linas que se encantam com os objetos tão delicados, pequeninos, os quais elas, tão pequeninas também, precisam limpar, com a enorme incumbência de não quebrar nenhum. Linas que não esmorecem: quem sabe, no São João do ano que vem, elas ganham estrelinhas?
Só assim, só tecendo esperança, se torna suportável conviver com a mulher sem doçura que as Linas costumam chamar de madrinha… (Hebe Coimbra)