Aí tem coisa…
Dalila tinha um problema: como esconder o próprio rabo? Enroladinho ele escapulia; pendurado no braço, como bolsa, escorregava. Mas o que fazia surgir esse problema? A lei maluca de um rei: era proibido usar rabo mais longo do que o da rainha. Ora, mas rabo não se usa, nasce-se com ele! Este é o mote para Graziela Hetzel fazer uma crítica social ao autoritarismo e seus desmandos. Dalila e Camila, duas macacas, mais o mico Janjão descobrem que “tem coisa” atrás da ordem real — a prisão dos bichos acusados pelo tamanho do rabo, a apropriação de todas as frutas da mata pelo casal real e seu plano de fuga (após a venda dos produtos para o dono de um circo). Tal descoberta mobiliza os três personagens a uma ação para libertar os presos e desmantelar os planos, com a ajuda da guarda real. Se o rei e a rainha queriam conhecer o mundo, bem… eles o fizeram mas… dentro de uma jaula de circo, realizando macaquices em troca de comida. O livro recebeu Menção Especial do Prêmio Luiz Jardim da União Brasileira dos Escritores em 1993. Bem-humorado, o texto, coloquial, traz as marcas da oralidade. A narrativa perde parcialmente seu ritmo quando Dalila trama a “revolta da mata”; a adesão da guarda real é quase imediata (supõe apenas a constatação das reais intenções dos governantes pelo chefe dos guardas), criando previsibilidade nos acontecimentos seguintes. O desfecho final, porém, retoma a fluidez e o tom bem-humorado. As ilustrações em branco e preto de Graça Lima são muito criativas e interessantes, valorizando a obra. A ausência de outras cores não compromete o olhar sobre os desenhos, o que desmistifica certos critérios pelos quais o livro infantil tem que ser, necessariamente, muito colorido para agradar às crianças. (S.M.F.B. / Bibliografia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil, v. 10, 1999)