Nau Catarineta

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Nau Catarineta é o mais célebre, o mais belo, o mais mítico dos romances marítimos do cancioneiro lusitano. Xácara anônima, oriunda da segunda metade do século XVI, é a perfeita prova do nível estético, da síntese lírica, da sabedoria e economia dramáticas a que pode chegar a poesia anônima do povo. Vários livros de grande erudição tentaram sem resultado estabelecer suas fontes factuais ou lendárias, enquanto ela continuava a ser simplesmente recitada ou cantada, em suas infinitas variantes, por todo o território de expressão portuguesa, do Algarve a Trás-os-Montes, nas terras de África ou nos Açores, na Ilha da Madeira ou no Brasil. O certo é que todo um clima trágico-marítimo, que era a realidade portuguesa desde o início da carreira da Índia, contribuiu para a origem do romance. O pavor do naufrágio, da calmaria, da fome no mar; o fantasma do canibalismo, a solidão, a saudade e as tentações no meio do deserto marinho, tudo isso vivia nas mentes e corações do povo heroico que criou a Nau Catarineta.

Uma longa pesquisa, em várias manifestações folclóricas no vasto mundo lusófono, conduziu Roger Mello à excelente versão dramática deste livro. Trabalho semelhante, de reinterpretação de muitas vertentes da nossa arte popular, serviu de inspiração para as suas maravilhosas ilustrações, que fazem deste álbum uma festa para os olhos e para a alma, uma celebração obrigatória para os que se interessam, em qualquer idade, pelas nossas mais fundas e autênticas raízes. (Alexei Bueno)

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