Pedro, menino navegador

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Desde a capa, o leitor é mergulhado no azul do oceano que separa o continente europeu do latino-americano. Inicialmente, há páginas internas maiores que revelam a distância entre os continentes europeu e latino por causa da imensidão do então inexplorado Oceano Atlântico. No azul da noite do mar encontramos o texto verbal que nos conta da vontade dos meninos portugueses de navegar. Diz o texto: “O mar, cheio de mistérios convida a desafiar seus perigos. /E foi assim que Pedro cresceu: ouvindo falar do mar,/ das conchas, dos encantamentos e das sereias.” Quanto ao aspecto gráfico, acontece algo interessante no livro: o tamanho da página dupla começa a diminuir conforme a história avança e as caravelas de Pedro e a América do Sul se aproximam, porque ele veleja em sua caravela rumo à terras brasileiras. Na página central, a menor delas, o azul do mar e do céu que até então predominara, começa a se mesclar ao amarelo da terra brasilis, terra que já tinha dono, ou seja, os tons ocre invadem a página fazendo ressoar a cor de pele parda dos indígenas. Portanto, abruptamente, Pedro descobre que a terra já tinha dono — foi só dar de cara com seu povo. Neste encontro, Pedro ambiciona riquezas, enquanto os indígenas se contentam com uma possível troca entre culturas diferentes. Pouco antes de aportar na nova terra, Pedro teve um sonho que o sobressaltou: um indígena o recebe com tristeza nos olhos. Anos mais tarde, o mesmo Pedro que ambicionava riquezas faleceu. Dizem que foi de malária. O texto questiona isso e deixa a questão: “Será? Talvez Pedro tenha morrido aprisionado/ na tristeza daquele sonho que nunca o abandonou…” Esta história bela, triste e salgada como as águas de Portugal contam do primeiro contato dos índios brasileiros com o povo branco, uma longa história de sangue vermelho, suor amarelo da terra e a tristeza da cor do mar. Uma história muito bem-vinda na época da comemoração dos 500 anos do país pela originalidade do texto, do projeto gráfico e das ilustrações tão bem realizadas. (A.L.O.B. / Bibliografia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil, v. 11, 2000)

compartilhe no facebook | comente