Mururu no Amazonas

sexta-feira, 01 de novembro de 2013

Mururu no Amazonas apresenta vários motivos para que sua leitura seja vivamente recomendada. É uma história sobre o Brasil e suas especificidades tão instigantes, contada com uma linguagem poética que envolve e acaricia pelos recursos linguísticos expressivos utilizados,  com um vocabulário saboroso típico da região, mas que não torna hermético o texto, pelo contrário, dá-lhe sabor, passando ao leitor impressões sensoriais que o seduzem. A poesia que perpassa a prosa conta a história de uma menina-moça, no limiar de descobertas e experiências pessoais, que serão o portal para uma nova etapa de sua vida. Flávia Lins e Silva narra com muita sensibilidade os fatos que a conduzem às mudanças, colocando a região Amazônica como pano de fundo e o elemento “água” como catalisador das transformações que envolvem a descoberta do amor, com prisão e liberdade embutidas. É um belo livro que prende a atenção pela vertiginosa viagem nas águas da região Amazônica no casquinho Mururu, impulsionada pela linguagem que se serve de termos e expressões caracterizadoras do espaço em que se movem os personagens. Ainda nos são apresentados aspectos de uma região distante fisicamente, que se torna próxima pelas palavras. (Justificativas dos Votantes do Prêmio FNLIJ 2011, Produção 2010 / Maria Teresa Gonçalves Pereira)

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Toda a ação se passa no rio Amazonas e nos seus afluentes. O leitor acompanha a trajetória de Dorinha, “uma menina-moça, menina-amazona, mulher-pássaro” e seu encontro com Piú, um caboclo amazonense tão amante da natureza quanto sua companheira. Juntos, eles descobrem a desova do “tracajá”, tartaruga que habita os rios amazonenses; as sumaúmas, árvores de porte gigantesco. Há uma bonita passagem do livro, reveladora da descoberta do amor, que merece registro: “Deitado comigo, Piú se faz homem, cada vez mais homem, e eu já não sou quem era: sou mulher inaugurada”. (Justificativas dos Votantes do Prêmio FNLIJ 2011, Produção 2010 / Neide Medeiros Santos)

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Há nas águas de Mururu no Amazonas borbulhas do poeta pantaneiro Manoel de Barros, que em Arranjos para assobios verseja:

“A gente é cria de frases. Escrever é cheio de cascas e pérolas.”

E é com cascas e pérolas que Flávia Lins e Silva tece a narrativa de Mururu no Amazonas. É a voz da menina-moça Andorinha (ou Dorinha como a chamam na escola) explicitando seu atendimento com as águas da Amazônia, onde passa seus dias.

“Não me fio na terra. Meu entendimento é com a água.”

E assim, Andorinha sai em seu casquinho Mururu pela imensidão das águas da Amazônia. Quer encontrar seu pai e também tracajás para o aniversário da mãe. Vai pelo mundo feito de águas no seu barco de uma só pessoa. Sente medos e fomes. Vai por igapós, rios e corredeiras até encontrar o caboclo Piú: um menino homem com gosto de fruta e cheiro de terra. No encontro das águas cristalinas e barrentas, ela deseja ser chamada de cunhã. E Dorinha se torna mulher. Flávia Lins e Silva traz ao leitor de Mururu no Amazonas uma prosa poética que flui no ritmo das águas, no tempo das águas… Às vezes mansas; às vezes como corredeiras, mas sempre límpida. Toda a transformação de Dorinha vem narrada mansa, delicada e tensamente. A autora não fecha o conto, como não se fecham as águas, os ventos e o tempo. (Justificativas dos Votantes do Prêmio FNLIJ 2011, Produção 2010 / Marisa Borba)

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Mururu é um casquinho, um barco de uma só pessoa que navega como uma folha solta na imensidão das águas da Amazônia. Mururu é o casquinho de uma menina-moça que se apresenta assim: “Sou como meu nome: Andorinha… Vou de rio em rio e, quando o mundo esquenta, me arremesso de barriga na água. Na escola, me reinventaram e virei Dorinha. Desde então, carrego essa divisão em mim: sou Dorinha por fora e Andorinha por dentro.” Junto então com essa menina-amazona, essa mulher-pássaro, protegido apenas pela coragem do casquinho, o leitor mergulha em uma história que flui com a força e a infinitude do Amazonas. Aventura, transformação, descoberta e liberdade engolem Dorinha e Mururu, e o leitor mal tem tempo de prender o fôlego ante a corredeira. Dorinha deixa a mãe e a casa flutuante em busca do pai, mas quem encontra é Piú, um caboclo, um menino-homem com gosto de fruta e cheiro de terra. Dorinha atravessa o encontro das águas de cristal do Rio Negro com o caldo barrento do Solimões e se torna mulher… E o leitor? Ah, o leitor deixa seus olhos e sua alma se inundarem de uma água meio-salgada meio-doce, e percebe que um pedaço dele mesmo juntou-se ao grande rio que atravessa a floresta e o tempo. (Bia Hetzel)

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Mururu no Amazonas é um livro lindo, dos mais belos que li nos últimos tempos. Seu texto denso, mas fluido como o rio navegado por Dorinha e Mururu, nos provoca e convida a experimentar as imagens e sons literários oferecidos pela narrativa. Uma narrativa amorosa, que cresce e ganha corpo – e calor e dor e liberdade –, como parece acontecer a sua autora. Flávia Lins e Silva que, com esse livro, se inaugura e se reinventa em macia e literária literatura. (Justificativas dos Votantes do Prêmio FNLIJ 2011, Produção 2010 / Fabíola Faria)

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Mururu é o nome dado a um casquinho, onde Dorinha, uma linda jovem, encantada pelo mar, navega pela imensidão. Um belo dia parte em uma viagem através dos afluentes do Amazonas, deixa sua casa, sua mãe e vai em busca de seu pai, que havia saído para caçar tracajá, mas o perde de vista e precisa seguir sozinha, enfrenta perigos, correntezas, cobras, outros animais e tempestades, com muita valentia, coisa de menina criada na natureza.

Sua viagem fica ainda mais bela quando conhece Piú, um caboclo, moço bonito, por quem se apaixona. Ao seu lado, Dorinha descobre a beleza do amor. Juntos seguem passando por muitos rios, fazendo amizades com os pássaros e distribuindo sua alegria pelo caminho.

A narrativa em prosa poética de Flávia Lins e Silva desperta a imaginação, desperta os sentidos, deixando o leitor embarcar nessa viagem ao lado de Dorinha e Piú. Aprendemos sobre a geografia do Amazonas, os afluentes e os mistérios que eles guardam, o nome de cada pássaro, cada árvore, de qualquer inseto por menor que seja. Mururu traz a Amazônia para dentro de cada leitor que, mergulhado na história, se embala com o ritmo, os sons, toda a estética própria da selva. Não foi sem motivo que Flávia Lins e Silva, além de ganhar o Selo Altamente Recomendável da FNLIJ, ganhou a premiação de Melhor Livro de 2010 para jovens. Com uma narrativa fluente e, pela primeira vez misturando aventura com algumas pitadas de poesia, Flávia presenteia seus leitores com um livro divertido, rico e sensível. Mais do que nos ensinar sobre a fauna e a geografia da Amazônia, ela ensina sobre o encantamento que a floresta – assim como a leitura – pode guardar, e que pode exibir para quem se aventurar sobre suas águas, feito um casquinho entre essas folhas que também nascem da madeira. (F.Freitas e Paula Cajaty, 2011, http://wp.paulacajaty.com/?p=3079)

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